Cada vez mais, pesquisadores têm
concluído que o aprendizado inicia-se antes do que imaginávamos, ou seja, mesmo
um sistema nervoso imaturo tem capacidade para funcionar. Desta forma, graças à
evolução da medicina que, nos últimos 30 anos, foram descobertos elementos
sobre o psiquismo fetal o qual, até então, era completamente desconhecido.
Apesar
de ser um tema relativamente novo, autores como Freud já levantavam hipóteses
sobre a possível existência de um psiquismo fetal. Para ele as primeiras fases
da vida teriam importância fundamental para o psíquico das pessoas e para o
desenvolvimento da personalidade. Em Inibições, Sintoma e Angústia, por
exemplo, Freud afirma que “Há muito mais continuidade entre a vida
intra-uterina e a primeira infância que do que a impressionante censura do ato
do nascimento nos teria feito acreditar”.
No entanto, a medida que os autores foram se interessando pelo assunto,surgiram diferentes perspectivas. Se para alguns, como Rascovsky, o
feto seria um ser de plena felicidade, por isso, diante de momentos traumáticos
haveria tendência em regredir a um estágio fetal diante das ansiedades
insuportáveis. Para outros a vida fetal como um momento de plena felicidade seria
uma ilusão. Therezinha Souza-Dias, afirma que se a vida intra-uterina fosse tão
paradisíaca não haveria necessidade de o feto desenvolver mecanismos
defensivos. E esta visão de fato mudou a partir das observações feitais graças
ao avanço da tecnologia e tem demonstrado que o estresse materno, drogas e
substâncias neuro-hormonais atravessam a placenta e atingem o feto.
Hoje sabemos que o feto pode perceber
luz e som, é capaz de engolir, escolhe uma posição predileta, boceja, é capaz
de reconhecer a voz da sua mãe e por ela desenvolve predileção. Só pelo fato de
reconhecer a voz da mãe já seriamos levados e admitir a existência de memória. Além
do mais, é um ser que sente e tem emoções, experimenta prazer e dor, tristeza,
angústia, além de ser capaz de ouvir os ruídos intestinais da sua mãe, seu
batimento cardíaco e o fluxo de seu sangue. Wilheim acredita que padrões de
conduta e de temperamento já estejam presentes, as características individuais
são evidentes e marcantes desde o início da vida gestacional e que estas
características se mantém as mesmas após o nascimento. Isso fica evidente em gestações gemelares, pois,
foi constatado que características individuais intra-utero permanecerão as
mesmas após o nascimento.
Diante destas pesquisas fica evidente,
primeiro, a importância do desenvolvimento de estudos sobre psicologia pré e
perinatal e, depois, a importância do cuidado emocional da gestante, mas não só
dela. Inclusive da saúde mental do pai.
REFERÊNCIAS
GASTAUD,
M. B. Psiquismo fetal: a teoria de
Arnaldo Rascovsky sobre os núcleos arcaicos do Ego. Contemporâneo:
Psicanálise e Transdisciplinaridade,
5, 9-28, 2008.
FREUD,
S. Inibições, sintomas e ansiedade (1926 [1925]). In: ______. Edição
standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Trad.
de Christiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro: Imago, 1976, p. 107-201, v.
20.
SOUZA-DIAS
, T. G. Considerações sobre o psiquismo do feto. São
Paulo:
Escuta, 1996.
WILHEIM,
J. O que é psicologia pré-natal. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo,
1997.
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